1.19.2010

A Ilha não está na Europa.




Em uma discussão levantada pelo Seco, do blog Sofredores, levanta-se a questão: o que é mais caro, assistir a um jogo do Avaí ou do Barcelona? Um jogo do Liverpool ou do Avaí? A discussão que o Seco levantou, o Gerson arrematou e agora eu dou o meu pitaco. Já expus nos comentários do Avaixonados e agora coloco aqui para nossos amigos leitores do Futebol Mané.

Acredite se quiser, mas o ingresso mais barato para assistir a um jogo do Barcelona custa 19 Euros, ou seja, R$48. Na Ressacada o ticket mais em conta sai por módicos R$60. Nas sociais a situação comparativa não é muito melhor: no estádio do Liverpool (acima o ingresso que o Seco comprou) a cadeira custa 36 Libras (R$103), R$3 mais caro que no Carianos. Para assistir o Real Madrid R$63 é mais do que suficiente e o Manchester vai querer te surrupiar a fortuna de R$68. Se você ainda não consegue acreditar nisso, eu te entendo.
- Gerson dos Santos


Não precisamos falar das diferenças econômicas entre Brasil e Europa, nem da disparidade de qualidade entre os campeonatos, muito menos entre a gritante diferença de conforto de estádios europeus com o Templo do Carianos.

Mas existe uma diferença grande entre os clubes apresentados que não pode ser ignorada.

Qualquer um destes apresentados - Barcelona, Real Madrid e Manchester - podem viver sem qualquer aporte financeiro nas bilheterias. Eles podem dar-se ao luxo, se quiserem, claro, de viver SEM bilheteria. Afinal, qual deles não sobreviveria tendo os patrocínios e as rendas de TV enormes que têm?

Mas não, além de tudo ainda contam com seus estádios absurdamente enormes sempre cheios. O Manchester, por exemplo, teve média de 75.304 pessoas por jogo. Real Madrid e Barcelona não ficaram muito longe disso e o Liverpool com 44 mil, o que significa lotação de 93% da capacidade durante o campeonato.

Veja só: a média de público do Barcelona é excelente, mas significa somente 70% da capacidade do estádio.

Vale ressaltar que nestas verdadeiras arenas esportivas os jogos dão o valor do ingresso, portanto um duelo entre Manchester e Barcelona com certeza não custará o mesmo.

O fato é que estes dados poderiam convecer qualquer um de que os ingressos baratos são somente um caso de falta de necessidade e ufanismo - mas não é bem assim. O Barcelona poderia viver sem ingressos, por exemplo, porque mesmo tendo capacidade para quase 100 mil espectadores, todas as cadeiras já estão vendidas para sócios. Este é o verdadeiro poder dos grandes. De todo o faturamento da Barça em 2007-2008, 29% veio da bilheteria*. Com preços baratos!

Um trecho de Patricia Belotti, da Stella Barros Turismo, sobre assistir a um jogo do Barça:
"É um clima totalmente diferente de um jogo no Brasil, começando pela dificuldade em conseguir ingresso. Para entrar você precisa encontrar um sócio do Barcelona que não queira ver o jogo. Assim ele passa o cartão para que você entre no lugar dele. Em jogos comuns não é raro encontrar um sócio disposto a fazer isto por uns 30 euros, porém em grandes clássicos é improvável, já que os sócios são fanáticos."

Como um clube pode "transpirar poder" tendo seu estádio vazio?
Como um potencial torcedor pode vir a ser apaixonar por um clube que não arrasta multidões para perto de si sequer na sua cidade de origem? Ninguém quer torcer para um aparente fracassado, ou para mais um clube de empresários - não fosse esse o defeito do Barueri, por exemplo, com certeza já teriam ganhado mais simpatizantes no Brasil inteiro.

O dilema do preço dos ingresoss já deveria ter sido solucionado há muito tempo no Avaí com uma política de associação realmente abrangente, que lote o estádio sem a necessidade de venda de ingressos. Só que há um grande problema nestas campanhas para "angariar" sócios.

É impossível que um clube tão bem sucedido nos dois últimos anos, como o Avaí, tenha que portar-se como um clube de elite. O Avaí deveria mostrar-se um time das massas - e isso passa pela associação.

Uma das maneiras de tornar qualquer um torcedor do Avaí seria, por exemplo, associação a 10 ou 20 reais por mês, cobrando 50% do valor do ingresso para um setor reservado para esta categoria de sócios - não mais do que 15% da Ressacada. É FATO: dos 163 mil sócios do Barcelona, provavelmente poucos daqueles da Suécia poderão ir assiduamente aos jogos na Espanha. Qual seria o atrativo de uma mensalidade a 10 ou 20 reais? Bom, além do fato dos ingressos, todo mundo adoraria dizer - e mostrar uma carteirinha - Brasil afora: "sou sócio do Avaí, o time da Ilha, do Guga, e um dos melhores do Brasil!"

São atitudes simples, que podem aproximar o clube do torcedor sem afastar a necessidade de se ter mensalidades altas enquanto não temos altas cotas de TV, muito menos grandes patrocínios e uma grande dívida com o Presidente.

O Avaí equivocou-se em tudo. Absolutamente em tudo. Um setor para associados nas modalidades atuais, tendo em vista que 30% deles não comparecem aos jogos, não necessita de altos ingressos. Necessita é de gente, para que a cultura da Avaianização se difunda.

Resumindo:
Falta olhar para o futuro - e neste caso o futuro já está diante dos nossos olhos, que são os grandes clubes. A saída não é imitá-los: é saber porque são grandes - e como chegaram lá.

*A receitas de Bilheteira incluem os bilhetes de época (lugares anuais) e quotização. Dado da Deloitte Analysis.

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